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Affonso Solano | Haters gonna hate

“Bom… Use seus instintos agressivos, garoto. Deixe o ódio fluir através de você” – Darth Sidious

08.07.2015, às 08H55.

Existem 1.368 haters na internet.

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Sim, apenas 1.368. Eles são, contudo, como uma flatulência solitária no salão de danças: não acabam com a festa, mas podem estragar com o seu humor se assim você permitir.

E é exatamente isso que o hater deseja: estragar a sua festa. Por quê? Porque ele gostaria de ser o aniversariante, é claro.

Registros situam o 1º hater em 32.832 a.C., na ilha de Sulawesi, Indonésia. Conta-se que após testemunhar Bäl pintar uma cena de caçada na parede da caverna, Göm se sentiu inferiorizado frente à habilidade artística do companheiro e se levantou para dizer que a ilustração estava “mal feita”. Enxotado pela tribo, Göm se mudou para o pântano vizinho e viveu o resto da vida culpando Bäl por seus fracassos (até contrair malária e falecer).

Alguns anos se passaram e a internet transformou o pântano de Bäl em fóruns obscuros, onde seus descendentes se reúnem para manter a tradição da família; investindo horas e horas de suas vidas, este povo infeliz dedica-se a monitorar e odiar os seres da superfície, culpando-os pela escada que temem ou não sabem construir. Tiram print screens de tweets e posts e os dissecam em um laboratório contaminado pela frustração, gerenciado por investigadores que precisam encontrar um culpado – mesmo que tenham que enxergar o que não está ali. Contam a lenda do bicho-papão vezes e mais vezes, repetindo-a até que se torne verdade para a turba em busca de bruxos para queimar.

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É imprescindível, no entanto, diferir um hater de alguém que simplesmente discorde de você (ou simplesmente não goste do seu trabalho por questões de gosto pessoal). E é por isso que convido vocês a embarcarem comigo na intrigante subcategorização de haters que venho compilando em minhas andanças internéticas:

O MESTRE GAMER:

O Mestre Gamer acredita que as desenvolvedoras estrangeiras de jogos se importam com as críticas em português que ele despeja na sessão de comentários do site especializado. Ele não entende de programação ou narrativa, mas os headshots que conquista online lhe concedem a autoridade de um diretor de arte com anos de experiência.

Citação: “Este jogo que você deu nota 8 é um lixo. Ainda não joguei porque não tenho um PS4, mas assisti o gameplay no canal do Br8YouTuberJack17”.

O GUERREIRO DA JUSTIÇA SOCIAL:

Autointitulados representantes de toda e qualquer minoria (ainda que nem sempre pertençam a alguma) os Guerreiros da Justiça Social concentram seus ninhos principalmente no Facebook, onde monitoram tópicos que possam saciar sua sede. Eles acreditam que textos verborrágicos e imagens impactantes dispensam contribuições para entidades carentes, e defendem a família tradicional brasileira enquanto mantem o vídeo pornográfico lésbico na outra aba do navegador.

Citação: “Lamentável você fazer campanha de adoção de cachorros abandonados enquanto crianças passam fome na África”.

O CRÍTICO DE YOUTUBE:

Ele é estudante de direito, mas tem a fórmula do sucesso para o seu canal de entretenimento. Mestre das ameaças, o Crítico de YouTube jura parar de assistir seus vídeos caso não se adequem ao que ele queira, mas retorna toda semana com um novo comentário. Vídeos patrocinados costumam atraí-los para a caçada.

Citação: “O som e a imagem ainda precisam melhorar muito. Ah, e assinem meu canal de Gameplay que é massa!

O EMBAIXADOR DA LITERATURA FANTÁSTICA:

Seu épico de 980 páginas vai mudar a literatura brasileira, mas as grandes editoras estão em uma conspiração para não publicá-lo. O Embaixador da Literatura Fantástica odeia o autor de sucesso, ainda que compre todos os exemplares e seja um dos primeiros na fila de autógrafos. Em rituais semanais, grupos de Embaixadores se reúnem para escrutinar passagens de livros populares e apontar seus pecados, apenas para copiá-los depois em seus próprios romances.

Citação: “O sucesso daquele livro é o resultado de uma campanha massiva de publicidade eletrônica, obviamente”.

O MESTRE DO CALABOUÇO:

O Mestre do Calabouço iniciou a vida projetando no podcaster/vlogger/crítico o avatar de seus gostos pessoais. Quando este ousa desviar do papel, contudo, o Mestre sente-se profundamente traído, transformando seu outrora admirado em nêmesis. Dono de memória invejável, o membro desta categoria compara notas dadas a filmes/quadrinhos/etc completamente diferentes entre si, na esperança de detectar a incoerência na opinião pessoal de outro ser humano e expor sua farsa para as mentes mais fracas que ainda o respeitam.

Citação: “Este site já foi melhor”.

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*Affonso Solano  é cocriador do Matando Robôs Gigantes, escritor do livro O Espadachim de Carvão e tem um canal no YouTube chamado Hora Super.

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