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A Noiva do Deserto | “Precisamos variar os assuntos em nossos filmes e não ficar só na violência”, diz Paulina García

A aclamada atriz chilena de Gloria fala ao Omelete sobre atuação, América Latina e O Mecanismo

11.04.2018, às 15H05.

Se o argentino Ricardo Darín é hoje o mais festejado astro da América Hispânica, o título de atriz mais popular da porção de língua espanhola deste continente cabe a uma chilena, Paulina García, que volta às telas brasileiras nesta quinta-feira (12) à frente de A Noiva do Deserto. Foi um dos maiores sucessos latinos do Festival de Cannes em 2017 e está no páreo para o troféu de melhor filme de estreia na edição 2018 do Prêmio Platino, o Oscar ibero-americano, a ser entregue no dia 29, em Cancún.

Divulgação

Neste drama das cineastas estreantes Cecilia Atán e Valeria Pivato (ambas muito experientes na carreira de assistência de direção), a atriz de 57 anos vive a faxineira Teresa, tirada de sua zona de conforto afetiva quando perde sua mala após uma carona no trailer do mascate Gringo (Claudio Rissi).

“Algumas pessoas já me falaram que este filme se parece com Central do Brasil, mas eu nunca vi esse filme brasileiro, embora já tenha ouvido falar muito bem dele. Estou bem curiosa para vê-lo, mas Cecilia e Valeria não usaram ele como referência para a minha personagem. Não sei se na direção delas, que tinham certeza absoluta do que queriam ao opor o meu jeito de atuar ao de Claudio, esse longa serviu de inspiração”, diz a atriz, famosa mundialmente ao ter sido premiada na Berlinale, em 2013, por Gloria, de Sebastián Lelio.

Embora nunca tenha filmado aqui, ela tem um carinho especial pelo Brasil. “Outro dia, estava vendo uma série brasileira muito impressionante, O Mecanismo, e tentei ouvi-la sem precisar do recurso das legendas em espanhol. Deu certo. O modo de falar de vocês, brasileiros, em algumas palavras, é muito parecido com a prosódia do Chile, só há uma diferença na melodia, pois o português é mais solto, mais cantado”, diz ela, que trabalhou em Narcos, ao lado de Wagner Moura. “Quando ouvia Wagner falar, eu sentia algo familiar. O mesmo não ocorre quando eu ouço a minha língua natal, o espanhol, da boca de um argentino como Claudio Rissi. Os argentinos dão uma ênfase à palavra distinta da nossa, mais forte. E eu sou uma atriz que gosta do silêncio. Ele é o lugar onde a verdade se revela”.

Em 2016, Paulina chamou a atenção de Hollywood fazendo Melhores Amigos, de Ira Sachs, ao lado de Greg Kinnear. No ano passado, integrou um elenco multinacional ao lado de Darín, do americano Christian Slater (Mr. Robot), do também chileno Alfredo Castro (No) e do brasileiro Leonardo Franco (Preamar), em La Cordillera, de Santiago Mitre. Faz projetos independentes como A Noiva do Deserto e projetos de maior vulto comercial, mas nunca desgruda o pé de terras latinas.

“É muito bom ver uma mulher de 58 anos ter um papel de protagonista na tela, sem ser num drama social sobre violência em favelas. Precisamos variar os assuntos em nossos filmes e não ficar só na violência”, diz Paulina. “É necessário falar de crime e de política, mas é preciso saber falar de gente pelo viés do afeto”.

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