Após uma carreira de curtas premiados em festival, o diretor brasiliense Santiago Dellape tenta a sorte na telona com A Repartição do Tempo, uma comédia sci-fi despretensiosa sobre algo muito próximo da realidade de todo brasileiro: burocracia e serviços públicos.
Ambientada em Brasília, a trama acompanha uma repartição pública responsável por patentear invenções que é pouco funcional, burocrática demais e piada na mídia. Isso faz com que o patrão Lisboa (Eucir de Souza) utilize uma máquina do tempo, encontrada no estoque do escritório, para criar uma linha do tempo paralela onde os funcionários são escravizados para trabalhar 24 horas por dia. Assim Jonas (Edu Moraes), um dos empregados, precisa encontrar uma forma de fugir e pedir ajuda para a sua outra versão.
Apesar da inspiração em Feitiço do Tempo (1993), o filme usa esse aspecto de ficção científica apenas como plano de fundo para brincar com o cotidiano de escritório e dar alfinetadas na cultura funcionalista brasileira. É um humor muito específico, que não só é preciso ter conhecimento de trabalho público como também saber rir das dificuldades, como a ineficiência do estado para se organizar e servir a população. Nesse aspecto, Repartição do Tempo acerta em cheio ao divertir sem politizar, mesmo tratando de política pura.
O foco é recorrente no longa, que parece muito seguro de sua estética e tom, mirando em algo desprendido, descolado e autodeclarado “filme de Sessão da Tarde”. O que deixa a desejar são as atuações, quase todas medíocres ou decepcionantes. Mesmo o roteiro, escrito com a naturalidade de conversas cotidianas e reações espontâneas, é ofuscado quando as falas são entregues e interpretadas da forma mais artificial o possível. Mesmo Lisboa, o chefe cuja única característica de personalidade é estar sempre irritado, faz momentos sérios parecem vergonhosos e os cômicos apenas esquecíveis e apagados.
Repartição do Tempo coloca o entretenimento como objetivo principal. Ainda que tropece aqui e ali, no fim das contas é um filme que sabe como pegar um problema real e mostrá-lo para arrancar risadas, sem a missão megalomaníaca de mudar o país dessa forma.
Ano: 2017
País: Brasil
Classificação: 16 anos
Duração: 100 min
Direção: Santiago Dellape
Roteiro: Santiago Dellape
Elenco: Sérgio Sartório, Sérgio Hondjakoff, Bidô Galvão, Dedé Santana, Tonico Pereira, Selma Egrei, Rosanna Viegas, Eucir de Souza, Andrade Jr., Bianca Muller, André Deca