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Pelé: O Nascimento de uma Lenda | Crítica

Longa do Rei do Futebol é uma experiência tão marcante quanto levar um carrinho por trás sem bola

25.10.2017, às 15H28.
Atualizada em 26.10.2017, ÀS 15H46

Se for assistir Pelé: O Nascimento de uma Lenda procurando conhecer melhor a história do Rei, esse não é um filme pra você. Mas se estiver atrás de um bom entretenimento, divertido com toques dramáticos... esse também NÃO é um filme pra você. Contudo, se você quiser assistir a uma história ruim (mas bem ruim mesmo), com diálogos terrivelmente escritos, que mostra um Brasil estereotipado, não se preocupa em nenhum momento com fatos históricos e ainda tem cenas fracas de futebol. Bom, então recomendo que você vá agora ao cinema.

O longa, que visa contar a história do jovem Edson Arantes do Nascimento desde sua infância pobre até a participação no primeiro título do Brasil na Copa do Mundo de 1958 quando tinha apenas 17 anos, começa de forma promissora: Pelé ouve transmissões de rádio que dizem o quanto a Seleção é fraca, desacreditada e que não tem chances de vencer a partida decisiva contra a União Soviética. Em seguida, entra em campo, ostentando a 10 nas costas, se maravilhando com o estádio. Se a produção tivesse um minuto, seria fantástica. Mas ela continua. Infelizmente, ela continua.

Os diretores Jeff e Michael Zimbalist, que dirigiram o ótimo documentário The Two Escobars (que fala da relação de Pablo Escobar com o desenvolvimento do futebol na Colômbia e o assassinato de Andres Escobar pelo narcotráfico após o zagueiro ter feito um gol contra na Copa do Mundo de 1994), esqueceram-se de fazer o trabalho mais básico possível de pesquisa histórica sobre o Brasil da época, sobre o futebol e, até mesmo, sobre o Pelé. A impressão que dá é que eles jogaram em algum buscador: Brasil, pobreza, futebol e tudo que apareceu no resultado da primeira página eles decidiram colocar no filme.

Nosso país apresenta todos os estereótipos possíveis. Casas que se misturam com vegetação; favelas em todo lugar a todo momento; expressões como “é hora do samba” surgem para falar sobre o futebol jogado em sua forma mais bela... Eles pegaram tudo isso, condensaram, e distribuíram ao longo da produção. Só isso deixaria o filme péssimo, mas os cineastas elevaram para um outro nível. 

É um longa sobre o Rei do Futebol e, obviamente, teríamos diversos momentos dele com a bola nos pés. Por algum motivo - que possivelmente nunca entenderemos o porquê - jogar bem, na visão dos cineastas, é saber tirar a bola do chão. As cenas, especialmente do início, ficam forçadas, falsas e quem gosta do jogo vai cansar de revirar os olhos de irritação ao ver o garoto chegar até o gol fazendo embaixadinhas com o peito. Pelé era um jogador além de seu tempo, muito rápido, habilidoso, inteligente que sempre usava seus recursos para fazer gol. Quando o longa decide deixar a bola no chão e usar cortes rápidos funciona, mas rapidamente alguma loucura entra em cena (como no momento em que Pelé se vê cercado por três zagueiros e decide levantar a bola pra virar uma bicicleta).

Tudo isso é horroroso, mas a ideia de dizer que a ginga é uma espécie de força Jedi originada da capoeira é demais pra cabeça de qualquer um. Segundo o filme, guerreiros africanos transformados em escravos usavam a capoeira para se proteger originando a “ginga”. Depois que a luta foi proibida, eles decidiram praticar sua ginga no futebol, que acabou entrando no DNA do brasileiro - tudo isso muito bem explicado em uma cena que beira o cômico.

A fotografia tenta deixar tudo épico e beira um clichê atrás do outro, assim como as falas. Todas parecem querer explicar mais do que o necessário e, ao mesmo tempo, querem parecer frases de efeito. Seu Jorge, que interpreta o Dondinho, pai de Pelé, ainda faz milagre em algumas cenas, mas nenhum ator consegue trabalhar bem com um roteiro tão fraco. 

Os erros se arrastam por todo o longa, sejam eles históricos, de roteiro, de fotografia, de direção... tudo isso deixa o filme tão marcante quando um carrinho na canela sem bola. Chaves que me perdoe, mas não. Não é melhor ir ver o filme do Pelé.   

Nota do Crítico
Ruim
Pelé - O Nascimento de Uma Lenda
Pelé: Birth of a Legend
Pelé - O Nascimento de Uma Lenda
Pelé: Birth of a Legend

Ano: 2016

País: EUA

Classificação: 10 anos

Duração: 107 min

Direção: Jeff Zimbalist, Michael Zimbalist

Roteiro: Jeff Zimbalist, Michael Zimbalist

Elenco: Vincent D'Onofrio, Rodrigo Santoro, Diego Boneta, Colm Meaney, Seu Jorge, Kevin de Paula

Onde assistir:
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