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Talvez Uma História de Amor | Crítica

Cheio de referências, filme brinca com os clichês da comédia romântica, sem ter medo de ser meloso

14.06.2018, às 14H51.
Atualizada em 15.06.2018, ÀS 11H39

Espera-se que uma comédia romântica acompanhe o relacionamento do casal do primeiro encontro ao felizes para sempre. Talvez Uma História de Amor, porém, como o próprio título sugere, não segue à risca os padrões do gênero. Afinal, o romance de Virgílio e Clara não começa com uma troca de olhares ou um encontro desastrado. Começa do fim.

Virgílio chega em casa, após mais um dia de trabalho na agência, e escuta as mensagens na sua secretária eletrônica, enquanto segue seu habitual cronograma de tarefas domésticas. Para sua surpresa, uma voz feminina que nunca ouviu antes começa a ecoar no seu apartamento, dizendo com todas as letras que aquele era o fim do namoro deles. Entretanto, ele não tem nenhuma memória dessa tal Clara, quase como se tivesse sido submetido ao procedimento médico de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças contra a sua vontade. Apesar de confuso, algo no publicitário diz que ele precisa entender esse estranho recado.

Com um simples Google, a história narrada nos 100 minutos não duraria mais do que alguns segundos. Um resultado no LinkedIn ou uma foto no Instagram dariam conta do recado. Porém, Virgílio é um homem alheio às tecnologias do século XXI. O celular com antena ou o toca discos na sala, embora ajudem a compor o clima indie da produção, não são um recurso para caracterizar o protagonista como mais um hipster de São Paulo. Na realidade, são um indício da resistência do personagem à mudança, uma espécie de manifestação material do grande obstáculo que ele terá que enfrentar, se quiser resgatar seu romance com Clara.

Por isso, a busca se desenrola no boca a boca, com o publicitário reencontrando pessoas com graus diferentes de envolvimento neste relacionamento, desde sua ex-namorada anterior, cuja festa de aniversário foi o princípio do misterioso romance, até o irmão de Clara, que não vê com bons olhos a tentativa de Virgílio de entender o término. Assim, o filme, centrado em última instância em duas pessoas, justifica seu numeroso elenco. Totia Meireles, Bianca Comparato, Nathalia Dill, Paulo Vilhena, Marco Luque, Dani Calabresa e até mesmo Cynthia Nixon, a Miranda de Sex and the City, fazem participações, conduzindo Virgílio até sua tão desejada resposta.

Para cada passo desta investigação, o diretor Rodrigo Bernardo escolhe a trilha sonora a dedo. Seja usando a icônica “New York, New York” de Frank Sinatra, seja com “Me Encontra” do Charlie Brown Jr., ele explora a música como um recurso narrativo, não apenas para dar tom às cenas, mas para brincar com os percalços de Virgílio. Os primeiros versos de “September”, da banda Earth, Wind & Fire, por exemplo, embalam a vaga recordação do primeiro encontro entre Virgílio e Clara, quase como se o inconsciente dele dissesse “você se lembra?”.

De fato, percebe-se que tudo é milimetricamente planejado, como se o jeito metódico de Virgílio tivesse tomado conta também do departamento de arte e do diretor de fotografia. Porém, para que a adaptação do livro de Martin Page tomasse forma de verdade, era necessário que um ator competente assumisse a responsabilidade de levar o filme praticamente sozinho. Felizmente, Mateus Solano cumpre bem a função. Ele dá um toque sutil de humor ao personagem, ao mesmo tempo que entrega a carga dramática necessária para os momentos de desnorteamento e solidão.

Enquanto uma comédia romântica, Talvez Uma História de Amor foge de alguns dos clichês do gênero, mas em nenhum momento se propõe a reinventar a roda. O longa não tem medo de ser meloso nos momentos determinantes, com provas de amor grandiosas e declarações públicas, nem de assumir suas inspirações. Se Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é uma referência indireta, Sintonia de Amor é explicitamente lembrado, com Virgílio assistindo a uma cena entre Tom Hanks e Meg Ryan. Deste modo, ao mesmo tempo que Bernardo traz um respiro para o cinema nacional, acostumado com comédias exageradas, dá também para os fãs de filmes românticos uma produção comercial com um quê de familiar.

Nota do Crítico
Ótimo
Talvez uma História de Amor
Talvez uma História de Amor
Talvez uma História de Amor
Talvez uma História de Amor

Ano: 2017

País: Brasil

Classificação: 10 anos

Duração: 130 min

Direção: Rodrigo Bernardo

Roteiro: Ben Frahm, Rodrigo Bernardo

Elenco: Cynthia Nixon, Bianca Comparato, Mateus Solano

Onde assistir:
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