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Crítica

Uma Dobra no Tempo | Crítica

Ava DuVernay faz adaptação com a melhor das intenções, mas falha na criação de um universo fantástico

01.04.2018, às 19H17.
Atualizada em 01.04.2018, ÀS 21H43

A apresentação de Uma Dobra no Tempo para a imprensa brasileira começou com um recado de Ava DuVernay. No vídeo, a diretora explicava que a adaptação do livro de Madeleine L'Engle foi feita tendo em mente crianças de 8 a 12 anos. Sua intenção era inspirar aceitação para uma nova geração.

Em 1h49 o filme comprova esse objetivo. Todo sentimento que percorre o longa é genuíno. Porém, enquanto abraça a sua vocação sentimental, Uma Dobra no Tempo negligencia a sua embalagem fantástica. O roteiro de Jennifer Lee e Jeff Stockwell é incapaz de criar um universo intrigante por tornar a “moral da história” um alicerce, não uma consequência da narrativa. Os personagens e situações são sempre descritos, impostos, como uma grande aula.

Mesmo que o didatismo seja explicado pela juventude do seu público-alvo, falta ao filme um elemento essencial para manter a atenção de qualquer criança: diversão. Salvo um breve voo sobre uma folha antropomórfica, Meg (Storm Reid), a heroína dessa história, não tem qualquer momento de libertação na sua passagem para um mundo de fantasia. Ela sofre, salva o pai de forças malignas e aprende uma lição importante sobre a vida, mas o seu mundo real continua mais interessante do que as possibilidades infinitas de um multiverso.

DuVernay, que tem uma filmografia mais voltada para documentários e filmes baseados em fatos, como Selma: Uma Luta Pela Igualdade, claramente se sente mais à vontade na “realidade”. Quando filma a quadra de esportes do colégio cheia de crianças para captar o deslocamento de Meg, a diretora diz mais sobre sua protagonista do que nos diálogos que listam seus defeitos e qualidades. Ali o enquadramento é amplo, as cores são quentes, e a personagem não precisa de palavras para criar uma conexão. Quando chega no outro mundo, a câmera é quase sempre estática, o enquadramento fechado, em uma sucessão de planos e contraplanos presos aos rostos dos personagens.

O elenco carismático (Reid, Oprah Winfrey, Reese Witherspoon, Mindy Kaling, Levi Miller, Chris Pine, Gugu Mbatha-Raw, Zach Galifianakis e Michael Peña) ameniza a jornada, mas a promessa de maravilhamento que nunca se concretiza torna o filme cansativo. Os figurinos de Paco Delgado são bem construídos e detalhados, mas falta conexão com o design de produção de Naomi Shohan, que ora se mostra inspirada pelo design geométrico sessentista (fazendo referência à época em que o livro foi lançado), ora cai no genérico, abusando de signos já esgotados da fantasia (como na representação cancerígena do planeta Camazotz). Com uma câmera que não parece interessada pelo fantástico, essa mistura visual nunca ganha sustância e o filme não deixa sua marca.

Uma Dobra no Tempo estabelece uma mensagem clara e sincera de aceitação, mas não cria um mundo com que se possa sonhar. Talvez entre as crianças esse aprendizado baste, sem a exigência por uma fantasia coesa. Diz a experiência, contudo, que os melhores filmes da infância são aqueles não perdem a força na vida adulta.

Nota do Crítico
Regular
Uma Dobra no Tempo
A Wrinkle in Time
Uma Dobra no Tempo
A Wrinkle in Time

Ano: 2018

País: EUA

Direção: Ava DuVernay

Roteiro: Jennifer Lee

Elenco: Chris Pine, Reese Witherspoon, Michael Peña, Zach Galifianakis, Gugu Mbatha-Raw

Onde assistir:
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