Considerado um dos mais polêmicos documentaristas do país, ao unir História, Geografia e Cinema em filmes sobre feridas morais da política brasileira, o carioca Silvio Tendler faz uma radiografia da saúde bancária do país em seu novo longa-metragem, que estreia dia 31: Dedo na Ferida. Analistas das sequelas globais das crises monetárias dos últimos dez anos, como o cineasta franco-grego Costa-Gavras, integram o time de entrevistados do filme, que estuda a institucionalização da exclusão. Nesta segunda (28), às 20h30, Tendler debate o filme com o produtor Cavi Borges e integrantes da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro (ACCRJ), em Niterói, no Reserva Cultural.
Realizador do único longa documental do Brasil a passar a barreira de um milhão de ingressos vendidos (O Mundo Mágico dos Trapalhões), o diretor lotou salas também com Os Anos JK (1980) e Jango (1984), sendo aclamado por seus filmes ainda em solo europeu. Diante de seu histórico de sucessos, Dedo na Ferida é encarado como potencial êxito de público, sobretudo por ter conquistado o troféu Redentor de Júri Popular no Festival do Rio de 2017. Na entrevista a seguir, Tendler faz um balanço da crise.
Omelete: O que aconteceu com a pobreza brasileira desde que Dedo na Ferida foi rodado até hoje?
Silvio Tendler: A pobreza no país cresceu muito. Durante o “impeachment da Dilma”, como é chamado aquele momento histórico que classificaria como golpe, falava-se em uma marca de 12 milhões de desempregados. Hoje, falam-se em 24 milhões. A miséria perambula pelas ruas.
Omelete: De que maneira Dedo na Ferida sintetiza o Brasil de hoje?
Silvio Tendler: Mostrando as difíceis condições de vida do povo. O tempo que levamos para assistir a um filme é o mesmo que um trabalhador que mora na Baixada Fluminense, no estado do Rio de Janeiro, leva para ir de casa para o trabalho. Nunca se ganhou tanto dinheiro vivendo de especulação e nunca se ganhou tão mal vivendo de salário mínimo. Isso é o filme.
Omelete: Qual é a abordagem que singulariza a sua estética na atual cena documental?
Silvio Tendler: Fiz um documentário neorrrealista ao introduzir o personagem do operário na descrição do sistema financeiro internacional. Fundi o universal e o particular. Usei e abusei das influências de Rossellini, De Sica, Costa-Gavras (que fala no filme) e Ken Loach. Desta vez dei um sossego para Chris Marker, cineasta francês meu mestre, e trouxe uma pitada de Joris Ivens, importante documentarista holandês.