Filmes

Entrevista

John Woo: "Tom Hardy seria um herói ideal para os meus filmes e Ryan Gosling, o meu vilão"

Mito oriental do cinema de ação, diretor de A Outra Face, tem seus clássicos revisitados em mostra no CCBB e prepara remake de O Matador, com Lupita Nyong'o

01.06.2018, às 18H22.
Atualizada em 02.06.2018, ÀS 11H03

Envolvido projeto de refilmagem para os EUA de O Matador (1989), com Lupita Nyong'o no papel central, o diretor chinês John Woo, hoje com 71 anos, preferiu rodar o remake na Europa e não nos EUA a fim de realizar um sonho antigo: "Quero trabalhar em diferentes países, com sistemas distintos de trabalho, para conhecer novas culturas", disse o realizador de cults como A Outra Face (1997) ao Omelete. "Cresci em um ambiente de extrema pobreza e violência no sul da China e só no teatro e nos bancos de Igreja eu encontrava alívio. Porém, ao conhecer o cinema, eu encontrei não apenas um lugar para sonhar, como um universo de gêneros que me mostravam a beleza. Quero ir atrás da beleza, agora, em diferentes nações".   

Beijing Film Studio/Divulgação

Saído de um fracasso comercial (embora muito elogiado pela crítica) esrelado por atores japoneses e por sua filha, Angeles Woo, o thriller Manhunt (2017), o cineasta espera reencontrar nos EUA a mesma potência de criação de que desfrutada na Ásia nos tempos em que rodou Alvo Duplo (1986) e Fervura Máxima (1992), para muitos a obra-prima de uma carreira iniciada há 50 anos. Ambos os filmes integram a seleção da retrospectiva Cidade em Chamas – O Cinema de Hong Kong, que ocorre no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, de 12 de junho a 8 de julho, chegando ao CCBB de São Paulo, no dia 20 de junho, onde fica até 16 de julho. A retrospectiva passou pelo CCBB do Rio em maio, lotando salas sessão a sessão. 

Numa troca de emails com o Omelete, Woo relembrou seus sucessos, falou de seu processo de filmar e deu sua visão sobre o heroísmo nos tempos de hoje.

Omelete: O que te leva a reimaginar e refazer O Matador, 30 anos depois de sua estreia, com Lupita Nyong'o no papel antes confiado a Chow Yun Fat?

John Woo:  Agora eu terei uma mulher no papel principal, uma heroína. E vou poder explorar a Europa. O Matador é o mais perfeito de todos os meus filmes, pelo tema, pela técnica, pelo romantismo. Foi um experimento à sua época. E um experimento muito solitário, porque os atores e a equipe não faziam a menor ideia do filme que a gente estava tentando criar. Não usei roteiro no set. Trabalhei como um pintor escrevendo as cenas na hora e filmando na sequência. Tudo foi improvisado no set.

Omelete: Qual é noção de heroísmo e de vilania que melhor traduziria seu olhar sobre a violência?

John Woo:  Eu filmo cenas de ação como se fosse uma dança, inspirado no ideal dos romances de cavalaria e em grandes diretores de Hong Kong do passado que faziam filmes de luta de espada coreografadas. A dança me evoca a força plástica e lúdica que os musicais tiveram em meus tempos de garoto. Mas eu não trato a violência como algo valoroso. Sobre heróis e vilões... Tom Hardy seria um herói ideal para os meus filmes e Ryan Gosling o meu vilão.

Omelete: Foi essa a lógica da escolha de Nicolas Cage e John Travolta para A Outra Face? O que aquele filme representa em sua fase americana, iniciada em 1993?

John Woo:  Tenho orgulho imenso desse filme porque eu ganhei dos produtores liberdade para fazer o que eu acreditava, contando com o respeito e a colaboração de Cage e Travolta. Eles tinham respeito por mim e, a cada dia no set, ofereciam o que de melhor conseguiam alcançar. Isso é uma colaboração que não se esquece.

Omelete: Como foi a experiência de filmar com sua filha em Manhunt?

John Woo: Foi uma pena para mim que este projeto tenha sido tão conturbado, a começar pela má qualidade do roteiro e do fato de que o ator principal não tenha aceitado cooperar com a gente. Mas saiu algo divertido, apesar de tudo. E tenho orgulho de ver que Angeles está bem. Ela foi capaz de driblar as adversidades. Tenho orgulho dela.

Omelete: O que significa ter sua obra revisitada, 50 anos depois de sua estreia, em uma mostra no CCBB, em um país como o Brasil, onde o senhor ainda tem uma legião de fãs?

John Woo:  É uma honra saber que os jovens de hoje ainda têm a chance de ver filmes que eu fiz no passado. Isso me dá uma sensação calorosa de que ainda sou capaz de fazer novos amigos, na forma de jovens espectadores. Eu fico muito satisfeito com o esforço do festival em olhar de novo para mim e rever um momento em que o cinema de Hong Kong era feito na base da simplicidade. 

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.