Filmes

Entrevista

Personal Shopper: "Todo mundo acredita em fantasmas, mas damos a eles nomes muitos diferentes", diz Olivier Assayas

Mesmo vaiado pela crítica em Cannes, filme de terror com Kristen Stewart saiu premiado do festival

08.03.2017, às 09H31.
Atualizada em 08.03.2017, ÀS 10H06

Certeza alguma se mantém de pé diante de Personal Shopper, thriller sobrenatural “cabeça” com Kristen Stewart (a Bella de A Saga Crepúsculo) que alguns definem como drama espírita, outros, como terror do bom; alguns desprezam, outros aclamam; e que, em sua passagem pelo Festival de Cannes, apesar de vaiado pela crítica, acabou coroado pelo júri com o prêmio de melhor diretor para Olivier Assayas.

Personal Shopper

Ex-critico, responsável pela boa acolhida ao cinema asiático na imprensa europeia, o cineasta francês – que começou a filmar em 1979 e ganhou notoriedade por filmes como Demonlover e Depois de Maio – ganhou a láurea num empate com o romeno Cristian Mungiu, pelo filme Graduação. Mas Mungiu lá é um queridinho. A vitória de Assayas representou um gol no placar do pop, por se tratar de uma história de horror sobre fantasmas no mundo da moda de Paris.

Lidamos diariamente com perdas de pessoas queridas e preservamos a memória delas como algo muito presente, à qual recorremos com muita frequência, sobretudo por meio de imagens, seja em fotos, em filmes. Recordar os mortos é um exercício de presentificação, uma ressurreição simbólica. No fundo, o que o cinema, não importa de qual gênero seja, faz é trazer passados de volta à vida; é ressuscitar mortos”, disse Assayas ao Omelete em Cannes. “No fundo, todo mundo acredita em fantasmas, mas damos a eles nomes muito diferentes”.   

Mistura de O Iluminado (1980) com Nosso Lar (2010), Personal Shopper segue os passos da americana Maureen (Kristen, eleita melhor atriz no Festival de Oaxaca, no Mexicano, pelo papel), que trabalha na França, para uma estrela famosa, comprando roupas para seu figurino. Poderia ser o trabalho dos sonhos de muita gente (sua função é só gastar dinheiro e embelezar sua patroa), mas Maureen tem o trauma da morte de seu irmão gêmeo como um peso em seu dia a dia. Ele morreu em decorrência de um problema cardíaco que ela também carrega em seu peito. Aos poucos, na solidão de seu apartamento e mesmos em corredores por onde passa, a jovem começa a ser atormentada por estranhos acontecimentos ligados a uma aparição espectral. Cena a cena, o suspense aumenta e o ectoplasma vai dando lugar a sangue, numa pulsão narrativa exasperadora.

Existe um limite entre Realidade e Imaginação que, se conectado, pode modificar nossa percepção do que está a nossa volta, por abrir acesso a uma sensibilidade mais apurada, transcendente, que algumas pessoas, crédulas no Sobrenatural, poderiam chamar de Além. Maureen é alguém que busca passagens entre esses dois mundos. Só que essa busca ganha contornos críticos, além das obsessões pessoais da personagens, uma vez que eu a associo ao mundo da Moda, o lugar mais materialista possível”, diz o cineasta. “Estamos diante de alguém que busca a salvação no invisível”.

Escolada na estética (de enquadramentos sofisticados) de Assayas depois de ter feito Acima das Nuvens (2014) com ele, pelo qual ela ganhou o troféu César (o Oscar da França) de melhor coadjuvante, Kristen constrói Maureen como uma figura silenciosa e solitária, que busca conexão com seu lado mais obscuro.

Quando os monstros da sua cabeça estão muito perto, a sanidade da gente entra em colapso”, disse a atriz em Cannes.

Este ano, Assayas deve voltar a Cannes, mas como roteirista, com um dos longas mais esperados do ano: D’Après Une Histoire Vrai, o novo filme de Roman Polanski, com Eva Green. De quebra, o cineasta ainda de prepara para filmar um thriller de máfia com um de seus ícones: Sylvester Stallone, a quem vai dirigir em Idol’s Eye.

O que existe de mais sedutor no cinema de gênero, sobretudo no de ação, é o desafio que ele representa em relação ao estudo do movimento, do espaço, e a exigência que ele impõe de que a violência não seja tratada como mercadoria, mas sim como deixa para uma reflexão simbólica”, explicou o diretor. “A experiência do cinema nos faz ver o mundo com outros olhos.

Vaias numa sessão, debandada de publico na outra: assim foi a acolhida para Personal Shopper, thriller de horror-cabeça, no 69º Festival de Cannes, em disputa pela Palma de Ouro, sinalizando a resistência do evento com o sobrenatural. É a única justificativa, pois o novo longa-metragem do prestigiado diretor francês Olivier Assayas (é irretocável no domínio da técnica de assombrar, com enquadramentos rigorosos. O problema é que a trama é uma ou seja, é meio filme de terror, meio filme espírita, com discussões metafísicas. Mas dá susto. 

Existe uma maneira muito oportunista de se viver na vida industria do cinema, que é trabalhar apenas para ganhar dinheiro e ter fama. E existe o interesso genuíno de expressar inquietações artísticas a partir dos filmes. Essa é a opção que eu busco, embora respeite quem apenas quer fama”, disse a atriz em Cannes, no início do evento.

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