Detalhe do pôster de O Simpatizante (Reprodução)

Créditos da imagem: Detalhe do pôster de O Simpatizante (Reprodução)

Séries e TV

Entrevista

Park Chan-wook: O Simpatizante é sobre como “sem indivíduo, não há revolução”

Diretor quer que público questione separações rígidas de raça e nacionalidade

Omelete
4 min de leitura
13.04.2024, às 06H00.

O sonho de Viet Thanh Nguyen, autor do best-seller O Simpatizante, era ver sua obra adaptada pelo diretor sul-coreano Park Chan-wook. Como muitos cinéfilos ao redor do mundo, o escrito admirava obras como Oldboy (2003), Lady Vingança (2005), Sede de Sangue (2007) e A Criada (2016) - e, por sorte, o roteirista Don McKellar também. Contatado por um amigo produtor sobre a possibilidade de adaptar O Simpatizante, McKellar pensou em ligar para Park, um ídolo pessoal, com quem havia trabalhado anos antes em um roteiro nunca produzido.

Quando você é um roteirista, é claro que é inspirado pelo trabalho dos seus colegas de trabalho diretores. Às vezes, quando estava escrevendo ou lendo algo, eu me pegava pensando: 'Este é um momento que cairia bem com a direção de Park Chan-wook'”, confessou McKellar em entrevista ao Omelete. Foi o que aconteceu quando estava lendo O Simpatizante. E, quando ouvi que Viet compartilhava esse meu sentimento, uma coisa levou a outra”.

A partir do momento em que Park Chan-wook topou o desafio de ser co-showrunner de McKellar em O Simpatizante, além de dirigir os três primeiros episódios, a trama do livro foi tomando outra proporção na mente do mestre sul-coreano. Na página, O Simpatizante acompanha o Capitão (Hoa Xuande), um espião a serviço do governo do Vietnã do Norte - a parte comunista do país, aliada à União Soviética - dentro do governo do Vietnã do Sul - a parte capitalista, aliada aos EUA. Partindo da queda de Saigon, que marcou a vitória dos comunistas, a série aborda as consequências da guerra do Vietnã do ponto de vista de refugiados e remanescentes.

Mas o diretor Park via algo de mais profundo ali, como contou ao Omelete: “Nas histórias que eu conto, nunca estou tentando passar uma mensagem ou uma lição. O que importa para mim é retratar a emoção dos personagens. Então, sim, O Simpatizante lida com a guerra do Vietnã e o conflito de ideologias no qual esse confronto se baseou. Mas o que eu realmente quero transmitir é a raiva que este personagem está sentindo, a solidão, a traição... E, além de transmitir, quero explorar por que essas emoções estão acontecendo dentro dele”.

Acho que, se você parte disso, eventualmente você chega em uma análise do período em que o personagem vive, dos fatos históricos desse período, e da ideologia que está por trás desses fatos históricos”, continuou o cineasta. “É sempre esse o meu processo: é importante para mim que comecemos pelo indivíduo, que respeitemos a individualidade dele. No fim das contas, o que quero mostrar para o público é que, sem o indivíduo, não existe coletivo, não existe ideologia, e não existe revolução”.

Um homem, dois países

Park não nega que se vê um pouco em seu protagonista, um indivíduo dividido entre dois mundos. A atriz Kieu Chinh, grande estrela do cinema vietnamita que aparece em O Simpatizante como a mãe do Major (Phanxinê Linh), contou ao Omelete sobre um momento no set em que o diretor confidenciou a ela ver paralelos entre a situação do Vietnã durante a guerra e a de seu próprio país, dividido entre Coreia do Sul e Coreia do Norte por divergências políticas.

Eu sinto que realmente dediquei toda a minha alma a este projeto, que dei o meu melhor para refinar o que já existia no livro original, adicionar a ele as minhas experiências e visões”, confirmou Park. “Há uma cena muito importante em que os personagens discutem como categorizar uma pessoa entre os rótulos ‘asiático’ e ‘caucasiano’. Eu sempre me pego refletindo se é realmente tão fácil categorizar as pessoas dessa forma quanto gostamos de fingir que é, e acho que quis provocar esse mesmo questionamento no público. Para além da etnia, nacionalidade ou cor da pele de cada um, acho que todos nós temos características dos dois rótulos”.

De sua parte, o co-showrunner McKellar enxergou em O Simpatizante uma oportunidade de mostrar a guerra do Vietnã, que ele define como “talvez o conflito que mais conhecemos a partir do cinema e da TV”, sob outra perspectiva: “Apontamos para tudo o que o público dos EUA acha saber sobre o Vietnã e dizemos: 'Agora olhe para o outro lado'. Esta é uma guerra que aconteceu no solo deles, na qual a enorme maioria das vítimas eram do país deles... que direito temos de colocar nossa marca nisso? Acho que nossa série é um chamado para a empatia, no sentido que mostra que o lado vietnamita do conflito também tinha divisões, e contradições, e humanidade”.

O primeiro episódio de O Simpatizante estreia amanhã (14), às 22h, na HBO e na Max. Os episódios seguintes serão lançados semanalmente, sempre aos domingos.

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