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A Forma da Água | Conheça Alexandre Desplat, o compositor favorito ao Oscar

Francês que levou o BAFTA conta como criou a música para A Forma da Água

19.02.2018, às 16H50.
Atualizada em 26.02.2018, ÀS 12H20

Ontem, o BAFTA entregou o prêmio de melhor trilha sonora para Alexandre Desplat, compositor responsável pela romântica e fantasiosa trilha da obra de Guillermo Del ToroA Forma da Água. Cotado para o Oscar também, Desplat já tem uma carreira não apenas longa, como notável, no cinema. Ele já tem Oscar na bagagem, além de diversos outros prêmios, no BAFTA, no Globo de Ouro, no Grammy, e muitos outros.

Facebook/reprodução

Desplat nasceu em Paris, descendente de um pai francês e mãe grega, e começou a estudar música já aos 5 anos. Decidindo focar-se na flauta (algo que terá uma boa influência na trilha sonora indicada este ano), Desplat estudou também trompete e piano, enquanto ouvia principalmente álbuns de jazz em casa.

Mais tarde, quando ampliou horizontes musicais, Desplat se interessou por música latina e chegou a ter uma banda de bossa nova. Até hoje, ele credita compositores brasileiros como referências: “Edu Lobo, Tom Jobim, João Gilberto, Chico Buarque, Elis Regina eram meus heróis”, ele disse em entrevista ao Globo. Ao Estado, ele explicou o que lhe atrai tanto no Brasil: “Eu encontro na música brasileira uma rara complexidade melódica, além de uma beleza e de uma sutileza únicas (...) Era o tipo de som que defini como ideal para minha carreira”. A trilha que ele criou para o filme de Del Toro este ano também é um bom exemplo deste gosto que o compositor expressa. 

Mas foi John Williams que o inspirou a criar músicas para o cinema: “Ele me mostrou que existe um jeito de criar música contemporânea, música da minha época, influenciada pela música clássica do século XX, que é meu século favorito na música. E que você pode usar isso no cinema”. Ele ainda cita influências de Danny Elfman, Thomas Newman e Mychael Danna, renomados compositores que, segundo o francês, tem muita personalidade.

Em 1986, ele iniciou sua carreira com o filme Le Souffleur, e contribuiu em diversas obras, principalmente no cinema francês, durante o fim dos anos 80 e durante a década de 90. Ele começou a chamar atenção em Hollywood depois de trabalhos notáveis na França, e em 97, ele foi indicado ao seu primeiro César, pelo filme Um Herói Muito Discreto, de Jacques Audiard. Com mais de 50 filmes europeus no currículo, Desplat surgiu no cinema americano com Moça com Brinco de Pérola, de Peter Webber, que já lhe rendeu indicações no Bafta e no Globo de Ouro. Sua estreia no Oscar viria apenas mais tarde, em 2007, quando foi indicado pela trilha de A Rainha.

Desde então, Desplat se tornou um dos maiores nomes do cinema quando se trata de trilha sonora. Nos últimos 10 anos, ele recebeu suas 9 indicações na Academia, e ganhou na sua última indicação, em O Grande Hotel Budapeste. Suas outras nomeações vieram por A Rainha, O Curioso Caso de Benjamin Button, O Fantástico Senhor Raposo, O Discurso do Rei, Argo, Philomena, O Jogo da Imitação e, este ano, A Forma da Água.

Para o novo filme de Guillermo Del Toro, Alexandre Desplat criou composições profundamente poéticas, que potencializam a natureza fantástica e bela do conto de amor. As músicas que acompanham a história de Elisa (Sally Hawkins) são repletas de flauta e, com maestria, têm a capacidade de fazer o telespectador se sentir embaixo d’agua. Harmonizando com o filme como um todo, que funciona como um ritmo e fluidez baseados no movimento da água, Desplat queria que a trilha funcionasse do mesmo jeito: “Como você coloca a plateia em um estado de submersão? Eu sugeri para Guillermo que nós achássemos uma orquestra que tivesse a capacidade de transmitir isso. São algumas cordas, mas elas não tem um grande destaque (...) São as flautas e sopros que são elementos que soam como se você estivesse mergulhado. Quando você ouve música debaixo d’agua, à distância, é quase como se ela tivesse embaçada, opaca. Eu queria achar esta sensação e enfatiza-la”.

Em A Forma da Água, Desplat conseguiu depositar todo o seu talento de compreensão de um filme, criando uma obra tão melancólia e frágil como o longa como um todo. Na música tema da protagonista, ele também exemplifica isso, acompanhando a personagem muda com um acordeão e uma flauta aguda, que acaba dando voz à heroína: “Ela passa pelo filme com um sorriso e com música. A música é tão querida para ela. E usar o assobio como sua voz é o que captura tudo. O assobio é frágil, como ela, e captura todos os elementos que ela é”.

Apesar de estar contra grandes nomes, o compositor francês tem boas chances de levar o Oscar deste ano, ainda mais agora com o BAFTA no bolso. Da última vez que ele saiu vitorioso na premiação britânica, em 2015, ele saiu com o Oscar também. E uma vitória na Academia para Desplat este ano seria bem merecida.

Ouça abaixo a trilha:

O filme está em cartaz nos cinemas - leia a nossa crítica.

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