Enrique Iglesias já não é mais um garoto, como nas primeiras vezes que esteve no Brasil. O popstar latino que já transitou pelo romantismo (reflexo direto da carreira do pai, Julio) e buscou de quase todas as formas um lugar ao sol, agora com 42 anos, vive - possivelmente - um de seus melhores momentos com o público latino, graças a investida no reggaeton.
Este bom momento fica ainda mais nítido logo no início do show, quando, com poucos minutos no palco, o público já está conectado ao cantor. Enrique inicia sua apresentação focado em músicas mais animadas e sua banda - composta por 8 pessoas - funciona bem, entregando uma sonoridade ideal para tocar incessantemente em qualquer rádio pop ao redor do mundo.
No entanto, mesmo com toda esse apelo, não dá pra negar que o músico voltou a ganhar relevância fora do seu nicho graças a forma como surfou e surfa na onda do reggaeton. Por isso, dá pra perceber que grande parte de seu repertório mais recente e fora dessa seara só funciona com seus fãs mais antigos.
Algo interessante sobre a personalidade do cantor latino é que ele gosta de ir para o público. Mesmo com os gritos, que não cessam, já na primeira meia hora da apresentação, ele desce do palco, abraça e canta com suas fãs na grade. Sem dúvida, um risco para um artista que ainda hoje é considerado um sex symbol. Mas, como todo artista que sabe disso, ele parece não se importar.
Ainda neste primeiro momento a atmosfera da apresentação começa a mudar e segue das faixas mais pop - cantadas em inglês - para chegar a uma de suas músicas mais interessantes, “Duele El Corazon”. E assim, o show que parecia só para iniciados, segue para um momento bem diferente com Enrique e sua banda partindo para um palco menor, no início da pista comum, para entregar algumas versões acústicas. E é neste momento que o carisma do cantor fica evidente.
Antes de começar a nova fase da apresentação, ele conversa com a plateia, conta que irá cantar faixas que ainda não teve a oportunidade de cantar no Brasil e fica evidente que, apesar de ter nascido na Espanha, se sente mais à vontade falando em inglês (ele mora há um bom tempo em Miami). Detalhe que não o impede de conversar com a plateia em um portunhol um pouco enroscado.
Neste momento sua fase latina romântica é contemplada. Depois de descer do palco, mais uma vez, ele também convida um fã (Tibério) para conversar e cantar no palco. Realmente, neste ponto é possível ver como os anos na estrada podem fazer bem a um artista, já que apesar da barreira da língua e da visível descarga de adrenalina do fã, Enrique consegue conversar, cantar um trecho de “Experiencia Religiosa” - que não estava no setlist -, tomar uma dose de tequila com ele e levar o show para um outro patamar: Agora, realmente, bem mais próximo do público.
Porém, mesmo com toda essa proximidade com os fãs, a conversa e a latinidade, ver Enrique Iglesias no palco faz com que ele parece quase o tempo todo coreografado. Os movimentos são excessivamente grandes e, em muitos momentos, parecem pensados para tentar impressionar. A estratégia funciona e coloca em evidência todo a sua performance criada para o palco, algo que em alguns momentos fica fora da curva, mas que mantém o público 100% interessado em cada um de seus movimentos.
Por fim, a soma desses anos trabalhando com o público, mais um repertório recente que agrada bastante - seja pela latinidade seja pela forma como o músico se apresenta - faz do show algo interessante, mesmo quando ele parece não conseguir acertar as notas de suas canções, algo que acontece em quase todas as suas músicas mais recentes.
Assim, em meio a promessa de que não deve demorar tanto tempo para retornar ao Brasil em conjunto com uma sequência composta por suas faixas mais dançantes, o filho de um dos principais nomes da música romântica mundial parece conseguir mostrar que foi capaz de trilhar seu próprio caminho, aproveitando muito bem a mistura entre sua veia latina e a expertise mercadológica, algo que mantém os fãs mais antigos interessados e também coloca seu nome no radar das novas gerações.
