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Crítica

Lily Allen – No Shame | Crítica

Esqueça Sheezus; o comeback real de Lily Allen chegou em 2018, com No Shame

08.06.2018, às 15H55.
Atualizada em 08.06.2018, ÀS 18H00

Desde 2006, quando surgiu no aclamado álbum Still, Alright?, o fator mais chamativo de Lily Allen, além da capacidade de criar um pop esperto e de qualidade, era sua sinceridade. As letras de Allen sempre evidenciaram uma artista auto-consciente e genuína, que sabia fazer letras espertas, sarcásticas e afiadas como poucas.

Facebook/reprodução

Mas a carreira de Lily Allen passou por turbulências. Apesar do sucesso de seus primeiros álbuns (o segundo, It's Not Me, It's You, lançado em 2009), no começo da década, a cantora desapareceu dos holofotes para se focar em sua vida pessoal, e seu retorno para a vida profissional não foi fácil. Quando fez seu comeback com Sheezus, em 2014, Allen pareceu ter perdido a mão de sua identidade, principalmente em termos visuais. Justiça seja feita, Sheezus não foi um trabalho ruim; mas a esperta letrista estava escondida em algum lugar, e teve que batalhar para se encontrar de novo. Para quem conhece Lily Allen, pode esquecer Sheezus como o comeback. Em 2018, Lily Allen está realmente de volta com o seu mais novo disco, No Shame.

Quatro anos, uma crise de identidade, uma reclusão pessoal e um divórcio depois, No Shame é a Lily Allen amadurecida de verdade. Pela primeira vez sem o produtor Greg Kurstin, Allen soa absolutamente genuína, e fala sobre coração partido durante quase toda a duração do disco, abrindo exceções apenas para temas de maternidade ou de depressão. Durante as 14 faixas, de modo geral de eletropop com bastante piano, Allen remete diretamente ao seu divórcio de Sam Cooper e aos problemas em conciliar a maternidade com sua vida profissional.

O espírito afiado de Allen continua lá, já claro desde a primeira música, “Come On Then”, onde ela responde à sua exposição na imprensa, e as críticas recebidas por seu comportamento como profissional, como esposa e como mãe. Do mesmo modo que fez em “Hard Out Here”, de Sheezus, Allen agora fala com mais seriedade sobre a pressão de terceiros, que talvez por estar envolta por um clima muito mais melancólico, soa mais intenso.

Não é só de melancolia que No Shame se forma, e traz Allen mais descontraída em algumas faixas, como “Your Choice”, que remete aos seus primeiros trabalhos, ou “Waste”, onde Allen aparece com mais bom-humor falando sobre um relacionamento tóxico em uma balada mais reggae, com participação de Lady Chann. Mesmo assim, os destaques de No Shame são definitivamente as faixas mais soturnas; “Three”, uma bela balada escrita do ponto de vista de seu filho, “Apples”, um paralelo entre o seu divórcio e o de seus pais, e “Everything To Feel Something”, a faixa mais triste do disco, onde Allen fala da perdição nos vícios e a desvalorização de seu corpo, nos momentos mais depressivos dessa fase de sua vida.  

O crescimento de Allen é transparente na habilidade em transitar entre o sarcasmo e a franqueza. Um bom exemplo disso talvez seja em um paralelo entre “Family Man”, de No Shame, com o primeiro single de sua carreira, "Smile". Enquanto a Allen de 21 anos fazia poesia com a vingança da rejeição, aos 33, “Family Man” é a poesia feita do ponto de vista do outro. Um dos maiores destaques do álbum, a faixa lembra trabalhos de Robbie Williams e até Elton John, e trata do sentimento do divórcio da perspectiva do ex-marido.

Por mais triste que No Shame seja no final, seu resultado é refrescante, e absolutamente positivo. Ele nos traz de volta o brilho real de Lily Allen, retirado de sua maior sinceridade, e abre espaço para uma talentosa artista voltar a nos presentear com seus trabalhos.

Nota do Crítico
Ótimo

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