Em uma emissora tão grande e influente como a Rede Globo, Tá no Ar parece não ter limites. O programa de humor já fez piadas sobre racismo, política, religião e outros temas que pareciam intocáveis. Com um Brasil polarizado entrando em ano de eleição, essa liberdade será colocada em teste com a quinta temporada, que estreou na última terça-feira (23).
Elenco e produção reconhecem o desafio. Durante coletiva no Rio de Janeiro, o trio de atores, criadores e roteiristas Marcelo Adnet, Maurício Rizzo e Marcius Melhem falou sobre fazer comédia sem amarras.
Apresentado como a televisão de uma realidade paralela, Tá no Ar é uma mistura de humor "sem sentido" com crítica e tiradas ácidas, muitas vezes direcionadas à programação da própria Rede Globo. "Para falar da TV com relevância, é preciso falar da realidade", diz Adnet.
Isso significa fazer esquetes falando de novelas, celebridades e histórias da Globo. Para muitos, o programa reflete o esforço do canal em se modernizar, tendo a autocrítica como um passo inicial. "Tá no Ar surgiu da percepção do quão engessado estávamos, com padrões antigos e uma visão muito antiquada do que se podia fazer", complementa Rizzo sobre o estado da TV aberta na época da criação do seriado. "O desafio é sempre ir além de onde já fomos."
Além da rede aberta, todo o universo da TV é mostrado. O passeio pelos vários canais também passa por versões alternativas de serviços de streaming, como a Netflix, e também pelo Youtube. Isso dá espaço para paródias de todo tipo de conteúdo, até os menos conhecidos pelo público-geral como RuPaul's Drag Race. O primeiro episódio traz isso em uma esquete que satiriza Pimp My Ride, reality de transformação automobilística da MTV - com direito até ao detalhe da dublagem fora de sincronia que é tradicional dos programas do gênero.
De volta à realidade
É claro que televisão não existe numa bolha. Falar da realidade também significa abordar problemas e questões do "mundo real". Apesar do programa ser politizado desde o início, a quinta temporada parece levar a outro nível ao abrir com críticas ao governo do Rio de Janeiro por não agir contra a violência, e também ao colocar conservadores e suas pautas como zumbis impiedosos em uma paródia de The Walking Dead.
Para Adnet, a ideia nunca foi fugir desse posicionamento - ainda mais na forma como os debates são conduzidos atualmente: "Ficar em cima do muro pode ser pior que cair para um dos lados, tem um quê de irresponsabilidade."
Mesmo assim, a produção garante que a ideia é incitar a reflexão ao invés de parodiar discordantes, defendendo que o humor deve ser capaz de tocar em todos os assuntos desde que não ofenda. "Liberdade é abstrata, e não é dada. Você vai lá e conquista. [...] O programa fala de tudo mas não agride ninguém", afirma Melhem.
Tá no Ar é transmitido às terças-feiras, após o Big Brother Brasil. Os episódios completos também são disponibilizados no serviço de streaming Globo Play.