Séries e TV

Crítica

The Alienist - 1ª temporada | Crítica

Reconstrução de época compensa obviedades do roteiro

18.06.2018, às 12H31.
Atualizada em 27.06.2018, ÀS 21H22

Um corpo é encontrado. Mutilado, violentado e disposto teatralmente num belo cenário, ele é o ponto de partida para uma história que se seguirá exatamente como muitas histórias que você já ouviu por aí. Um especialista em alguma coisa será acessado pela polícia para ajudar no caso, ele será ligeiramente perturbado por um passado misterioso. Um ou dois personagens periféricos serão inseridos na história por conta de habilidades específicas e as investigações correrão num jogo de pistas falsas que levará até um improvável criminoso.

Se tudo isso lhe parece familiar, não há coincidências. Desde O Silêncio dos Inocentes, lá nos anos 90, a fórmula é imediatamente reconhecível. E tudo acontece sempre do  mesmo jeito. Mesmo se trouxermos a referência para mais perto, Mindhunter (também da Netflix) acaba sendo um produto mais eficiente na imersão das mentes criminosas (talvez porque se passe numa época mais cheia de recursos). Mesmo ela, também se passa dentro da mesma métrica de “corpo-método-investigação-psicologia-descoberta”, que todas as séries seguem tão a risca que chega a soar sagrado.

The Alienist abre sua primeira temporada cumprindo os itens da cartilha: o corpo de um prostituto homossexual é encontrado na ponte do Brooklin, em 1896. As características cruéis da morte chamam a atenção da polícia, que recorre a um alienista  (vivido por Daniel Bruhl) – uma espécie de especialista em avaliar mentes “alienadas” de si mesmas, ou seja, mentes criminosas que são guiadas por um outro senso de realidade. Junto dele, um ilustrador jornalístico chamado John (Luke Evans) e a secretária Sara Howard (Dakota Fanning), que se tornara a primeira mulher a compor o quadro da polícia nova-iorquina. Os três começam a investigar o caso enquanto mais corpos continuam aparecendo.

Boys Don’t Cry

Se formos falar de estrutura dramatúrgica, The Alienist não tem absolutamente nada de novo para oferecer. Se você viu uma dessas séries de investigação criminal, você viu todas. O segredo aqui não está em quem é o assassino ou quem serão as próximas vítimas, e sim em apreciar o que a série oferece em termos de visual e ambientação. Talvez porque estivessem muito cientes disso, os criadores do show não pouparam esforços em representar uma Nova York sombria, chuvosa, no melhor estilo gótico que poderia sair de um dos bons filmes de Tim Burton.

Esse pano histórico segura o show e o salva do lugar comum. A investigação do crime passa por figuras reais como Roosevelt (Brian Geragthy), que viria a ser o Presidente dos Estados Unidos tempos depois; e mesmo a personagem de Dakota, Sara Howard, é espelhada na real primeira mulher a trabalhar para a polícia da cidade. Detalhes da trajetória urbana de Nova York vão sendo incorporados a esse roteiro corriqueiro, que por causa do tratamento estético impecável, consegue parecer muito melhor do que de fato é.

Daniel Bruhl segura o protagonismo do show com muita competência. O Alienista Kreizler é um homem profundamente conectado ao trabalho de análise da mente criminosa e sua curiosidade sobre quais são os mecanismos que levam a tamanhos atos de crueldade, é outro fator positivo na organização da narrativa. Se a investigação parece recorrente, está nos diálogos entre ele e os dois “parceiros”, o grande trunfo desse texto. Kreizler está ensaiando a construção dos primeiros padrões da psicopatia e tem em Sara sua grande interlocução. Os dois se enfrentam numa batalha intelectual especulativa que faz toda a diferença para o espectador.

Não há espaço para muitos romances, há uma discussão sobre gênero que é bastante vigente e mesmo que o resultado da investigação não seja o mais surpreendente de todos, ele é conduzido com coerência, o que é importante em dramaturgias como essa. Talvez o mais curioso seja perceber a luta do alienista para aceitar a própria ineficiência em estabelecer uma ligação entre um cérebro deficiente e o ato da psicopatia. Há um elemento importante na equação, que é o Captain Connor (David Wilmot), o antigo capitão da polícia, que leva a investigação com seus métodos corruptos e violentos, e sob a tutela de um título público, escapa da avaliação psicológica que o levaria a ser tão doente quanto o próprio assassino que procura.

Curiosamente, The Alienist tem um encerramento otimista e muito bem fechado, sem pontas soltas. Qualquer futuro para o show representará o modelo procedural que provavelmente lhe tornará mais simplista do que já é. Com sua primeira temporada, a série alcança o objetivo de ser correta, bela e interessante. Ela não precisa de mais que isso, enfim.

Anonymous Content/Divulgação
Nota do Crítico
Ótimo
The Alienist
Em andamento (2018- )
The Alienist
Em andamento (2018- )

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
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